sábado, dezembro 15, 2007

Parece impossível. Anda uma pessoa sempre a desejar umas feriazinhas, um tempinho para se fazer o que realmente se gosta, e quando finalmente esse tão desejado intervalo é alcançado, não se sabe o que fazer ao tempo.
Parece que desaprendemos a dormir, a não pensar em nada, a não calendarizar todas as nossas actividades, a ter um tempo para nós, só para ficar. De repente, ficamos desamparados e livres do stress.
É terrível.
Felizmente que,como bons seres humanos que somos todos, (suponho eu, na minha mais profunda das ignorâncias), encontramos sempre algo de que ter medo, algo pelo qual ficamos ansiosos, algo que fazer, algo por que lutar.
O pior é quando não temos nada por que lutar. O meu caso, por exemplo.
A mais profunda crise de identidade.Que sou eu? Terrível, dizia eu.
O espírito criativo é algo que cansa. Seguir ordens é tão mais fácil! Seguir ordens de um regente tirano, sofrer por uma coisa injusta, submeter-nos s um destino maior do que nós, ser escorraçados, torturados e injustiçados por uma causa que não nos pertence. Mas, apesar de tudo, uma causa. Pode não ser nossa, pode não nos pertencer, mas é o caminho que está traçado para nós, é o sofrimento que nos vem endereçado com letras gigantes vermelhas no sobrescrito, "what we are meant to be". O nosso destino, diria eu, se acreditasse no destino. Mas digo na mesma, até porque não sei quanto tempo irá durar esta minha descrença em tal sujeito.
É terrível. O livre arbítrio é chato. Cansa. E mói.
Eu sempre adorei o conceito da insatisfação humana, a fome de Mundo, a fome de além-Mundo, o poder do sonho.
Em abstracto, amo-o. Em concreto, odeio-o.
Preciso de um objectivo. Quero acordar um dia e dizer: eu quero fazer isto! É isto, sem tirar nem pôr, tudo o que eu sempre quis, embora não soubesse que o queria! Quero acordar deste sonambulismo acordado, deste semi-ser, deste esperar por mim, esperar por algo que não vem, quero poder sofrer, rasgar-me, levar-me ao limite por algo que sei estar certo, uma causa justa e inabalável. Quero ter certeza do que faço. Quero poder chorar lágrimas de suor e sangue pelo meu esforço desumano na busca de algo que me pertence, que quero mais do que tudo, algo que mereço, ou talvez não, mas quero e sei querer. Quero perder o medo de mim para poder agir, deixar o diletantismo adormecido nos meus momentos de poesia, reservado para as noites mais longas, para os momentos de fraqueza, para conseguir enfrentar o mundo de frente e com plena consciência de mim e da minha missão. Quero que essa luz nunca se apague, quero segurá-la como facho ardente nas noites de ébano, acima de mim, acima da minha vontade, e acima de tudo não quero deixar de querer.
Acordem-me quando eu começar.

(texto escrito em Junho 2007)


domingo, dezembro 02, 2007

devaneios em dó Maior



Tantas vezes nos escondemos dos outros, que acabamos perdidos dentro de nós.

domingo, novembro 25, 2007




Fiz na semana passada uma visita aos HUC, ao serviço de Medicina I.

Chegada ao primeiro quarto, onde se acumulavam 4 senhoras, cada uma definhando em sua cama, totalmente dependentes de outrém e a maioria inconsciente, vestidas com a bata do hospital que somente lhes tapava a frente do corpo, a primeira coisa que me veio À cabeça foi a descrição da condição humana no livro "Ensaio sobre a cegueira" de José Saramago.

O estado a que podemos descer se não nos respeitarmos, a nossa pura essência, o nosso estado primitivo, em frente aos meus olhos. Uma submissão total, um alheamento do mundo exterior, uma entrega à degradação.

O meu estômago ainda vai dar muitas voltas.

terça-feira, novembro 20, 2007



pensamentos do dia enquanto se arranja vontade para estudar a anatomia do coração:


porque é que há obesidade mórbida, mas quando se trata de magreza, não há magreza mórbida e sim anorexia?


não parece contraditório que para manter um coração saudável se deva reduzir as tensões emocionais ao máximo, dando-lhe o mínimo de uso possível?


(hoje quebrei um pouco a mnha aversão por corações para pôr aqui uma imagem.estou a melhorar ;) (?))

terça-feira, novembro 13, 2007

os meus deuses foram destronados

o que cri foi destruído por mãos maiores do que a minha vontade

Não me lembro quem eu era antes de chegar aqui
Quem destruiu o que eu fui?
Quem me mata as horas sem saber?

quinta-feira, novembro 08, 2007



I can see the world through you

Esta música no ouvido..

(ouvir aqui)

(foto: Coimbra, jardim na avenida Navarro, perto da Portagem)

sexta-feira, novembro 02, 2007

Coimbra, 3 de Janeiro de 1932.
SANTO E SENHA
Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.

Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.

Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no pois passar, agora

Que vai cheio de noite e solidão.
Que vai ser
Uma estrela no chão.

Miguel Torga



Resumo da semana: sair à noite, rapar um grizo de madrugada, dormir de dia, tomar o pequeno-almoço geralmente por volta das 14h, ir às vezes à aula das 11h, dormir 3 a 5 horas por noite, matar um embrião de pinto para lhe retirar os olhos e estudar a retina (ponto alto!), jantar um pão e um iogurte e repetir a rotina!
A nossa vida são dois dias! :)



domingo, outubro 21, 2007




Foto: Coimbra, Av. da Cidade Aeminium


sexta-feira, outubro 19, 2007

não estou destinada a ser constante

Gostava de ser mais eu e menos tudo.

De me saber prender.

De dizer as palavras que são eu
eu...eu...eu...


"Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro."
Mário de Sá-Carneiro

quinta-feira, outubro 04, 2007

são coisas



Depois de uma aula completamente desinteressante de hora e meia com o melhor cirurgião cardiotorácico do país, a estudantada da AAB (associação dos amigos de braga) meteu-se no primeiro comboio com direcção à terra, e entre planos alucinantes para o fim-de-semana ("Ei,vou comer o frango da minha mãe; Ena pá, vou ver o "Família Superstar", a "Operação Triunfo" e os "Morangos com Açúcar" até ficar tolo"; etc), passaram-se as duas horas e meia de viagem.
É que parece que não, mas o raio da universidade até nos rouba tempo...

Afinal quando me apercebo estão os "Morangos" a acabar.pfff! Ainda não é desta que vou perceber a história..também é de mim ou aquilo anda progressivamente a perder conteúdo?

sexta-feira, setembro 28, 2007

aparição



- Não éramos
Apenas fugíamos juntos -

perdi-me no turbilhão de mim
destruí-te enquanto passava
destruímos as convenções
criámos novas ligações
perdemo-nos em nós vezes sem conta
na fúria desesperada de lágrimas trituradas
dos músculos presos da solidão
rendi-me no esforço total de me reconhecer
num qualquer canto de ti
os beijos sôfregos que trocamos
eram murros de desespero num qualquer muro de lucidez
não chegámos a ser promessa
porque nunca fomos um


ao som de: Toranja, Fim(dias que passam)
(que saudades de ouvir isto!)

sexta-feira, setembro 07, 2007


Raymond Dufayel (l'homme de verre):
Voilà, ma petite Amélie, vous n'avez pas des os en verre. Vous pouvez vous cogner à la vraie vie. Si vous laissez passer cette chance, alors avec le temps, c'est votre coeur qui va devenir aussi sec et cassant que mon squelette.


Tradução livre:
Raymond Dufayel(o Homem de Vidro):
Tu não tens ossos de vidro, pequena Amélie. Podes aguentar os golpes da vida.
E se deixas passar esta oportunidade, o teu coração poderá vir a tornar-se tão seco e frágil como o meu esqueleto.

domingo, agosto 26, 2007

sob o hálito acre da minha existência de nadas



Hoje, perdida na névoa de mim,tudo me é estranho.
Todo o sentido foi perdido ao longo das minhas passadas.
O meu reflexo, perdi-o nos espelhos da minha infância.
O que há de mim, o que sobrou, é um meio caminho sem direcção.
Sinto tudo isto (ou a ausência do que sinto) e todo o vazio do meu ser se condensa
em gotas suspensas do meu rosto inexpressivo, como resultado do frio não exterior, mas interior.
No exterior, o vazio de mim desdobra-se em mil sorrisos, numa fúria imensa
de rasgar a carne da vida, para voltar a sentir o sangue a jorrar-me dos olhos.
Je suis mon propre enfer.
Não me basto.

quanto mais cresço menos me conheço



És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa, "Gato que brincas na rua"



segunda-feira, agosto 20, 2007

Karluv Möst, Praga em Agosto
Momentos para recordar:
passear pela Ponte de Carlos ao fim de uma tarde de Verão,
sem o seu rebuliço habitual, ao som da "Ave Maria" de Schubert,
tocada e cantada por artistas de rua


Temos (sempre tivemos) uma ânsia de comunicar, de falar, de preencher o vazio.
Numa atitude um pouco egocêntrica, pois apenas o fazemos para nos aliviar um pouco da carga
do que sentimos ou do que pensamos, para não nos sentirmos inúteis e vãos, e conseguirmo-nos rever senão em nós, noutra pessoa. A ideia é confusa.
Podemos por vezes estar tão perdidos no turbilhão de sentimentos e pensamentos que nos assaltam que não nos conseguimos distinguir no meio de toda a névoa difusa. Assim, sentimos necessidade de falar, e tentar explicar ao outro o nosso estado interior, rezando para que ele consiga sentir o que nós não conseguimos sentir totalmente (pois as nossas palavras nunca corresponderão ao que se passa no nosso imo), e que finalmente possamos rever uma parte (esperamos nós que verdadeira) de nós no outro, aquela que não conseguimos discernir no meio do nosso turbilhão.
Trata-se assim de uma espécie de consulta médica, mas em que se substitui a dor física pela moral ou espiritual, o que lhe quiserem chamar. Este último tipo de consulta torna-se mais difícil de realizar porque a dor espiritual, ao contrário da física, nunca é localizada, mas encontra-se dissiminada por todo o nosso ser, corpo e alma.
Somos assim todos um pouco psicólogos ao serviço da nação, tentando dar aos outros a paz que nunca conseguimos para nós, mas tudo isto no fundo se resume a uma atitude egocêntrica, a de sentir que somos indispensáveis, e mais uma vez não somos vãos.

(a minha cabeça hoje está assim, confusa)

quinta-feira, agosto 16, 2007






Amores proibidos


(Praga, numa galeria de arte algures pela Staroměstská radnice)



I fell in love with Czech ART NOUVEAU artist Alphonse Mucha's work since I've visited Prague.

(a inspiração da cidade magnífica ainda não chegou, Sandra :P)

segunda-feira, agosto 13, 2007


Estou em Pragaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Depois de um voo atrasado 8 horas, de as malas chegarem inundadas por causa das cheias na Suíça, e de um dia de férias perdido por tudo isto, cá estou eu!
(um pouco atrapalhada com este teclado checo que tem acentos esquisitos e tudo fora do sítio)
Vou agora partir para Genebra.
Na shledanou!

(na foto está o famoso relógio astronómico localizado na Staroměstské náměstí)

quarta-feira, agosto 08, 2007



Ultimamente tenho feito coisas em que não me revejo
coisas em que não sou eu
Depois arrependo-me
E adoro

Ando a pisar a linha
Mas não consigo arrepender-me totalmente
de tudo o que faço
Afinal o que importa são os momentos e não a retrospectiva!

Mas que digo eu, estou praticamente de directa,
são palavras de uma louca.

As minhas palavras, leva-as o vento.
E talvez seja melhor assim.

segunda-feira, julho 30, 2007

Dancemos no Mundo (Sérgio Godinho)

Isto é como tudo
não há-de ser nada
a minha namorada
é tudo que eu queira
mas vive para lá da fronteira

Separam-nos cordas
separam-nos credos
e creio que medos
e creio que leis
nos colam à pele papéis

Tratados, acordos
são pântanos, lodos

Pisemos a pista
é bom que se insista
dancemos no mundo

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só

Por ódio passado
que seja maldito
amor favorito
não tem importância
se for é de circunstância

Separam-nos crimes
separam-nos cores
a noite é de horrores
quem disse que é lindo
o sol-posto de um dia findo

Sozinho adormeço
E em teu corpo apareço

Pisemos a pista
é bom que se insista
dancemos no mundo

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só

Em passos tão simples
trocar endereços
num mundo de acessos
ar onde sufocas
lugar de supostas trocas

Separam-nos facas
separam-nos fatwas
pai-nossos e datas
e excomunhões
acondicionando paixões

Acenda-se a tua
luz na minha rua

Pisemos a pista
é bom que se insista
dancemos no mundo

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só


Haverá coisa mais perfeita?

sexta-feira, julho 27, 2007





Aspirar a não ser nada.
A não sentir. A ser indiferente.
A ser mais leve e menos densa que o ar.
Aspirar a esquecer. Aspirar a desistir.

Aspirar a não doer.

domingo, julho 22, 2007

Há tantas coisas que não dizemos por medo de nós próprios.
Por medo de nos expôr, de nos dar a conhecer, de tirar as nossas máscaras, de nos tornarmos vulneráveis.
Fugimos de nós e fugimos dos outros.
E eventualmente acabamos sós.




Vinham no carro sem dizer uma palavra ao outro.
Eventualmente, ele deitava-lhe um olhar preocupado,
e encontrava-a sempre ausente, olhando pela janela,
com olhos perdidos, para o mais longínquo dos horizontes.
Os filhos, Rui e Miguel, no banco atrás, riscavam o ar com o seu
riso claro, faziam caretas um ao outro, atiravam sorrisos ao ar.
Um deles perguntou se faltava muito tempo para chegarem. O pai
consultou a mulher com o olhar, não encontrando retribuição para este,
e com um suspiro, respondeu "Está quase".
Quando chegaram ao largo onde iria decorrer o concerto, ela avançava
à frente, bela no seu casaco de couro vermelho, e calças justas de ganga.
O cabelo denotava já algum desleixo, dando nota da sua condição
de mãe de dois filhos pequenos. O casal devia ter por volta de 30 e poucos anos.
Escolheu uma fila de cadeiras, a meio da plateia improvisada naquele largo,
seguiram-se os dois filhos, e finalmente, na ponta oposta, o marido.
Passou o concerto ausente, com a cabeça inclinada e pousada numa das mãos, num sinal de cansaço e ligeiro desinteresse.
Não reagiu quando Rui, o filho mais novo, com apenas 2 anos, lhe apontou o contrabaixista, exclamando com os olhos muito abertos, e um imenso ar de espanto
"Olha, mãe, que coisa grande!"
Não reagiu quando ele lhe pediu para ir dar uma volta, porque estava muito chateado de ali estar. O marido, ouvindo o pedido, levantou-se e levou-o pela mão a dar um passeio nas redondezas.
Quando regressaram, Miguel, provavelmente assustado com o enorme silêncio da mãe, pediu-lhe também para o levar ao quarto-de-banho. Mais uma vez sem conseguir obter sequer um ligeiro movimento de cabeça da mulher, e prestes a quebrar com a sua indiferença, pegou na pequena mão do filho e acompanhou-o.
Ela aparentava um enorme vazio dentro de si. Os seus olhos haviam deixado de ver.
Parecia incapaz de sentir, pelo menos da mesma forma de antigamente.
Era já só cacos de uma enorme jarra, que alguém se esquecera de colar novamente no lugar.
O concerto de jazz começou. Rui tentava em vão falar com a mãe, emprestar-lhe um pouco do seu interesse ávido por tudo e por todas as coisas. Após várias tentativas inglórias, olhou-a longamente com os olhos castanhos, brilhantes e enormes, e atirou-se aos seus braços, apertando-lhe o pescoço num último esforço de proximidade.
Nesse momento, de súbito, a mãe acendeu-se. Retribuiu-lhe o abraço com um enorme sorriso, e um novo abraço, juntamente com umas palavras carinhosas naquele dialecto mãe-filho.
Quando o pai chegou com Miguel, dançavam os dois ao som da música, ele rodando o corpo desajeitadamente e ela, atirando gargalhadas, e abanando a cabeça para acompanhar o ritmo da melodia, nunca desviando os olhos do filho mais novo.
Nunca haveria de entender as mulheres, pensou.

segunda-feira, julho 16, 2007



Partículas cinzentas invadem o azul celeste. Pequenas entidades venenosas, sem vontade, sem propósito afectam-nos a todos. A luz vermelha, sua mãe, não nasce, contudo, sozinha. A luz vermelha nasce pelos dedos, nasce pelas mãos e nasce sobretudo pelas mentes inferiores e gananciosas do nosso presente.

Verdes gritantes acastanham-se e acinzentam-se. A alvura nebulosa teima em não chegar. Apenas o cinzento, só o cinzento e nada mais que o cinzento: uma abóbada inatingível e irrespirável.

Aprazíveis partículas líquidas batalham contra as odiáveis outras. O conflito acaba prontamente: as cinzentas ensopadas nas líquidas depressa formam uma lama melíflua que se precipita no solo. A luz vermelha crepita, estrídula e, eventualmente, extingue-se.

Uma batalha foi ganha… a verdadeira guerra aproxima-se.

(texto de Ricardo Reis;
foto: Alfândega da Fé, 2007)



quarta-feira, julho 11, 2007



Amar-te é olhar para ti
E com esse olhar escrevermos o nosso amor em paginas
infinitas, numa comunhão de almas e espíritos maior do
que todas as palavras, maior do que toda a eternidade,
e do tamanho de toda a cumplicidade

Porque no fundo todas as palavras são desnecessárias
Quando temos toda a imensidão de todas as cartas de amor
de todos os tempos escritas no nosso olhar



(E tudo isto é tanto mais não o sendo nunca)

quarta-feira, julho 04, 2007

o tempo que se inventa quando nunca se é capaz




O tempo que a gente perde pela vida a correr
O tempo que a gente sonha que é chegar e vencer
O tempo faz de nós um copo p’ra beber em paz
O tempo é um momento para nunca mais

O tempo mesmo agora fez a terra girar
O tempo sem demora traz as ondas do mar
O tempo que se inventa quando nunca se é capaz
O tempo é um carro novo sem a marcha-atrás

Voei p’ra te dizer
Sonhei p’ra te esquecer
Eu sei, não vais parar para eu crescer
Eu sei, esperei demais

Donna Maria, "Sem marcha atrás"

(a música pode ser ouvida aqui)

Balloon Mood

anja garbarek
adoro a sequência *

sexta-feira, junho 22, 2007

"Passagem das horas"

Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?

Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão,
Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra.
Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos.
Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...
Tão decadente, tão decadente, tão decadente...
Só estou bem quando ouço música, e nem então.
Jardins do século dezoito antes de 89,
Onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?

(...)

Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Minha quinta na província,
Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de partir entre mim e ti.
Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir,
E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...

(...)

Vem, ó noite, e apaga-me, vem e afoga-me em ti.
Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito,
Mágoa externa na Terra, choro silencioso do Mundo.
Mãe suave e antiga das emoções sem gesto,
Irmã mais velha, virgem e triste, das idéias sem nexo,
Noiva esperando sempre os nossos propósitos incompletos,
A direção constantemente abandonada do nosso destino,
A nossa incerteza pagã sem alegria,
A nossa fraqueza cristã sem fé,
O nosso budismo inerte, sem amor pelas coisas nem êxtases,
A nossa febre, a nossa palidez, a nossa impaciência de fracos,
A nossa vida, ó mãe, a nossa perdida vida...

Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido,
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Uma razão para descansar, uma necessidade de me distrair,
Uma cousa vinda diretamente da natureza para mim.

Álvaro de Campos

quinta-feira, junho 21, 2007

hit the road



Dois já foram!
O mais estranho é que o exame de Matemática me correu bem.
Ele há com cada coisa...
O próximo é Biologia, mas eu já nem o vejo, só penso para a frente,
estou a começar a sentir um gostinho a férias, sol, viagens, festivais de música..=)
Tudo o que há de bom para se fazer aos 18 anos, quando se vê toda a nossa vida
a passar à nossa frente, num fast foward a ritmo alucinante e sem aviso prévio.

What the hell! Let's live life!

domingo, junho 17, 2007

o outrora, agora


Recordo o tempo em que já fui

Recolho fragmentos desse outro ser

(photo taken by me)

terça-feira, junho 12, 2007

old school days

Vou ter saudades destes dias. Já tenho.
Acordar todos os dias às 7h (disto já não vou ter muitas saudades), e encontrar as mesmas caras, a Segunda enchia-se com as histórias do fim-de-semana, havia sempre muito que contar, sempre novidades, sempre uma piada nova, sempre ideias de actividades para a sexta, para as férias, para o fim-de-semana seguinte.
Havia tanto para descobrir sobre o mundo, sobre nós, sobre os outros. Havia tanto que aprender, tanto dentro como fora de aulas, há sempre histórias (por mais macabras que sejam) e sorrisos para partilhar.
Mesmo quando já não tínhamos assunto, mesmo partilhar o silêncio era bom. E relembrar os melhores momentos. Acima de tudo, rir muito. Viver a vida ao máximo porque o mundo é nosso. Se estivermos todos juntos, claro. :)


quarta-feira, junho 06, 2007

ter medo de si


"Quando estudava no liceu, só discutia uma vez as fórmulas matemáticas. Depois, era assunto arrumado. Servia-me delas, não hesitava.Se as demonstrávamos outra vez, era só para sabermos todos que não havia razão para hesitar.
Mas você gosta de hesitar. É cómodo. Não tem responsabilidades. A crise é necessária. De acordo. Deixá-la fermentar. Absolutamente. Mas você quer é a crise pela crise. Sabe que se ela se resolver não há razão para ficar quedo. E isso é que você não quer, poeta amigo. Ter de concluir. Ter, por consequência, de actuar. Se lhe roubam a crise, perde a sua razão de ser homem. Porque ser homem, para você, é dar um passo á frente, outro atrás. Ter um pé no céu e outro no inferno."
Vergílio Ferreira, "Contos"

terça-feira, maio 29, 2007

tempos de meninice

Lembram-se da composição da vaquinha? "Eu gosto muito da vaquinha porque ela dá leitinho
para os meninos ficarem grandes e fortes, e come muita ervinha"
As minhas nunca foram assim.
Lembro-me de fazer composições sobre a harmonia, com muitos arco-íris,e meninos de mãos
dadas, sobre paz e amor. Eu devia ser muito hippie quando era mais pequena.

E fazia um desenho muito giro e colorido a acompanhar o texto, e depois ficava a olhar
para o balão à espera dos outros meninos. E tirava Excelente e a minha professora
da primária dizia "Depressa e bem há pouco quem, mas há a Sofia quem".
Agora que penso nisso, a construção frásica da minha professora não era grande coisa.
Talvez não fosse tão boa professora.

De estudo do meio, lembro-me do livro (eram todos "Bambi"'s), e de uma imagem do Salazar
que nunca mais me esqueci. Fazia-me lembrar o meu avô quando punha aqueles óculos de massa
grossos como se usava então. É a única parte que me lembro bem também, essa em que
falam da implantação da república (5 outubro de 1910), e do marechal gomes da costa.

Foi também na primária que conheci o hino português completo. E ainda sei algumas quadras de cor
(para além da letra óbvia que se canta).

O 5º ano também foi engraçado. Continuava a ter educação musical, cuja professora eu nunca gostei
(e o sentimento era completamente mútuo). Tinha na mesma coro e piano, com um professor meio sinistro
que me fazia lembrar o Edgar Alan Poe, sempre de preto, e que sempre associei aos Silence Four.
Vá-se lá saber.
A minha professora de História era muito gira. Tinha traços de alemã, cabelo muito loirinho quase branco,
liso, olhos claros e para além disso era muito redondinha. Fazia-me lembrar uma cebola, que virava tomate
quando se ria, porque ficava muito corada e ria-se muito. Costumava contar piadas que
não tinham assim tanta piada, e nós esforçavamo-nos por nos rir com ela, enquanto eu me ria mais com a imagem
daquela cebolinha a rebolar de tanto riso pela sala.

Outros tempos.

(na foto:imagem retirada do filme "Le fabuleux déstin d'Amélie Poulin")

segunda-feira, maio 28, 2007


Hoje, no autocarro (claro!), ouvi mais uma frase daquelas:

"Então, D.Rosa, como vai?
Andando e gemendo, não é?"

É mesmo isso! Há que ser positivo!
É com cada pérola!...


(em que altura da vida é que se desiste de querer?)

(photo taken by me)

sexta-feira, maio 25, 2007

Tant pis





Estava a trabalhar, no escritório, quando ouviu o peso grosso das bátegas de chuva no telhado. Num impulso, levantou-se e foi abrir os estores da janela, atrás de si.
Ficou, muda, a olhar a volência da chuva, sôfrega, varrendo a rua, as árvores. Sentia o frio percorrer-lhe a espinha, entrar-he no pescoço, no peito. Arrepio.
(Que importa?)
A rua estava vazia- ou seria o reflexo de si?
Nada era importante.
A chuva, só a chuva.
Os seus olhos preenchiam-se do cinzento do mundo exterior (ou seria, novamente, aquela realidade apenas parte de si?).
Perdiam a cor. Perdiam a expressão. Perdiam vida.
Não sentir.

A chuva batia-lhe violentamente, ininterruptamente. Jorrava em cascata sobre si, preechendo-lhe todos os sentidos. Não, não sentia. Via.
Na casa em frente, acendeu-se uma janela, a mais pequena delas todas.
Um vulto sorriu. Ele.
Ela sorriu também. Qualquer coisa se agitava agora em si - sentia.
Ficaram ali, num quadro imóvel, sorrindo à chuva. Os momentos de maior entendimento e intimidade são sempre preenchidos pelo silêncio.

(photo taken by me)

Náusea

Tudo me parece tão vago de sentido. Tão pobre de vida.
Sinto (como Fernando Pessoa) uma enorme náusea de tudo. Do ser, do existir, do estar.
O branco.
O vácuo interminável que nos suga para dentro de coisa nenhuma.
Sinto vontade de vomitar o Mundo de mim para fora.
E depois reconstruir tudo, a partir do Grande Nada, o estado primordial das coisas,
(mesmo pré-primordial), o branco que fere, aquele sítio anterior a todos os sítios, mesmo antes de haver sítios, antes de haver chão e céu e terra e água e cor e vento e gravidade e todas as leis da física, e matemáticas, e morfossintáticas, e toda e qualquer noção de forma, de pensar, de lógica e raciocínio, antes de haver filosofia, e psicologia, e psiquiatria, e todas as grandes descobertas do Homem que destruíram a Humanidade. Um estado de entropia máxima (mas como, entropia, se não há física?). Um estado que nem é estado porque não há estar, não há tempo, e finalmente e principalmente, não há ninguém.
.....
Mas porque haveria eu de reconstruir o Mundo, afinal? Para testar as capacidades de auto-destruição do que crio? Mas, já sei, são elevadíssimas. E qual a utilidade desta experiência afinal? Que me interessa a mim criar algo que será infeliz, torturado e escravo de si até que se acabe?

Vou dar o projecto por terminado. Afinal ficamos assim.

(texto já antiguinho)

sexta-feira, maio 18, 2007

a troça esconde a coragem de abalar os alicerces


"a troça esconde a coragem de abalar os alicerces"

(in Inversus, novembro 2006)

E tenho dito!


(Para todos aqueles que são campeões em tudo, os que sempre foram príncipes na vida,
os que nunca levaram porrada, todos aqueles que se julgam semideuses e ímpares neste mundo)

domingo, maio 13, 2007


"Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes."

"Impressão Digital", António Gedeão


(acho que sem full view não se consegue perceber o quadro)

sexta-feira, maio 11, 2007

metas


"À procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra.
Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr através desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio.
Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de vencê-lo mais uma vez e sempre.

Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer.
Porque a minha força é imortal"

José Luís Peixoto, Cemitério de Pianos

quinta-feira, abril 26, 2007


O aeroporto é um local de passagem entre o nada e coisa nenhuma.
Foi a principal ideia que eu tirei do filme "The terminal"
(não me lembro da tradução para português).

Bem poética por sinal.


é o tempo quebrado entre o nada e o infinito


é o espaço físico imaterial, não corpóreo


um pertencer a nenhum lugar


um estar sempre a caminho


é o limite da pertença

da identidade



o compasso de espera necessário



por isso é que eu gosto tanto deles

quarta-feira, abril 25, 2007

A liberdade de expressão nunca será totalmente alcançada!

(?)

Fui pesquisar na Wikipedia:

Liberdade de expressão é o direito de se manifestar opiniões livremente.

A liberdade de expressão é um conceito considerado freqüentemente integral nas democracias liberais modernas para eliminar a censura.

O direito à liberdade da expressão para a maioria não é considerado ilimitado; os governos podem proibir determinados tipos prejudiciais de expressões. Sob a lei internacional, as limitações no discurso livre estão restritas à um rigoroso teste de três critérios: ser baseados na lei, perseguir um objetivo reconhecido como legítimo, e ser necessário (isto é, ter um propósito) para a realização desse objetivo.

( proteger a liberdade do outro impõe sempre uma limitação à liberdade de expressão, ou seja nunca seremos totalmente livres, nem nós que os protegemos- aos outros- nem eles que são protegidos, ou seja a liberdade não pode ser absoluta enquanto vivermos em sociedade, e só em sociedade é que poderemos ser verdadeiros seres humanos, transmitir as nossas ideias e comunicar!!Não há ser humano sem comunicação e sem interacção com outros.)

Entre os objectivos considerados legítimos está a proteção dos direitos e da reputação de outros (protecção contra a difamação, calúnia ou injúria), e a protecção da ordem, da segurança nacional e do público, da saúde e da moral. As opiniões variam extensamente entre povos, nações e culturas diferentes a respeito de quando a limitação do discurso livre se encontra com estes critérios.

( ou seja, o conceito de liberdade varia de pessoa para pessoa, por isso nunca será universal e absoluto enquanto -mais uma vez- quisermos respeitar as opiniões de cada um e as suas crenças)

E agora, quanto à censura?

No sentido moderno, a censura consiste em qualquer tentativa de suprimir informação, opiniões e até formas de expressão.

O propósito da censura está na manutenção do status quo, evitando alterações de pensamento num determinado grupo e a consequente vontade de mudança. Desta forma, a censura é muito comum entre alguns grupos, como certos grupos de interesse e pressão (lobbies),religiões, multinacionais e governos, como forma de manter o poder. A censura procura também evitar que certos conflitos e discussões se estabeleçam.

(os lobbies nunca vão ser eliminados, e vai haver sempre interesses pararelos. As religiões precisam de crentes para sobreviver, e só manipulando estes consegue mantê-los do seu lado; a manipulação é necessária, é preciso perverter opiniões, no sentido de conseguir obter alguma ordem; e muitas vezes as pessoas querem mesmo ser manipuladas, no caso da religião por exemplo, quando se encontram com dúvidas em relação ao sentido das suas existências precisam de acreditar em algo maior, precisam de um guia, e nessa altura tornam-se presas fáceis nas mãos da Religião; precisamos na nossa sociedade, de ter um papel activo, de nos sentirmos necessários, de seguir determinadas regras para nos sentirmos confortáveis, e é nessas pequenas "fraquezas" humanas que os governos e os políticos pegam, "orientando-nos" da maneira que convenha - naturalmente, a que lhes convenha mais a eles, o instinto da sobrevivência não está totalmente adormecido)

Pode também a censura ser entendida como a supressão de certos pontos de vista e opiniões divergentes, através da propaganda, manipulação dos média ou contra-informação. Estes métodos tendem a influenciar e manipular a opinião pública de forma a evitar que outras ideias, que não as predominantes ou dominantes tenham receptividade.

Quantas vezes somos manipulados por dia? É muitas vezes difícil de se ter noção. Sou manipulada quando faço coisas sem saber bem porquê, e o "melhor" de tudo é que também já ninguém nos pergunta, porque fazes isto ou aquilo, e nós deixamo-nos andar acordados por fora e adormecidos por dentro, guiados por uma mão invisível que nos conduz até algum lugar, ou talvez não conduza.. ou talvez não haja nenhuma mão, talvez sejamos nós os nossos próprios escravos e façamos o nosso próprio inferno.
Se Jean-Paul Sartre dizia que "l'enfer c'est les autres", eu digo que o nosso próprio inferno somos nós. Consumimos o nosso próprio ar.
Não somos livres.

sábado, abril 14, 2007

beauty & masks (II)

Foi já há um século atrás que Fernando Pessoa escreveu e descreveu a nossa sociedade actual.
E cada vez mais actuais e prementes as suas palavras se tornam.
A publicidade é agora mais forte e mais agressiva do que nunca.
Somos constantemente bombardeados por modelos impossíveis de beleza, de modos de vida luxuosos, confrontados com um mundo dourado que todos sabemos não ser verdadeiro e que esconde um imenso vazio e uma intensa "podridão" de alma.
Não há espaço em televisão para pessoas comuns, para pessoas feias, a TV mostra cada vez menos a nossa realidade, havendo apenas um espaço exclusivo para ela nos telejornais.
As novelas são mundos à parte, repetindo a mesma fórmula exaustivamente (a da gata borralheira, a da opressão dos ricos sobre os pobres, os romances e traições venezuelanos, filhos que afinal são primos, inimigos que afinal são irmãos). Quer dizer, estes eram os temas da literatura por exemplo de Camilo Castelo Branco, como em "Amor de Perdição". E eu não acredito que a mentalidade da sociedade portuguesa não tenha evoluido desde aí! Não estará já no tempo de mudar um bocado a fórmula, de adaptar um bocado mais as novelas ao nosso tempo, de deixar de alimentar as pessoas com os mesmos dramas poeirentos e entaramelentos que anestesiam os cérebros?
Os reality shows (A bela e o mestre, big brother) mostram-nos o lado mais triste da nossa sociedade. Peço desculpa mas conheço muito boa gente que os condena da mesma forma que eu, nem todos os portugueses são assim tão primitivos como os que nos fazem engolir, e já nem todos nós aguentamos ver aquela degradação moral.

E, saindo um pouco do exemplo da TV, e voltando ao tema inicial, até mesmo nos nossos gestos mais simples se reflecte a forma como fomos e somos dominados pela opinião pública, e pelo olhar da sociedade. Quem consegue sair de casa sem pôr perfume, ou quem consegue sair de casa sem se pintar um bocado, sem arranjar o cabelo, tentar esconder um pouco quem realmente somos? São pequenas máscaras sem as quais conseguimos viver, que estão já tão enraizadas em nós que já nem nos apercebemos que as colocamos inconscientemente.

E assim andamos perdidos nesta ilusão, a vaguear entre o consciente e inconsciente, alimentados por este sonho dourado que sabemos inatingível e portanto apetecível.

(lembrei-me disto quando vi, numa revista -parece-me que era a Sábado-, a Allegra Versace, herdeira do trono Versace, que parece que sofre de anorexia. Não tem grande ligação, eu sei. :) para ver uma imagem dela, cliquem aqui)

sexta-feira, abril 13, 2007


Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada

Fernando Pessoa

- why do we hide from ourselves? -

na foto:Aishywara Rai, considerada a mais bela Miss Mundo de todos os tempos

segunda-feira, abril 09, 2007

do you know who's beautiful?


you are
yes you are

Porque ela hoje faz 5 anos :)


quinta-feira, abril 05, 2007

innocence



na foto: o João
local: Dublin, somewhere near Guinness Storehouse and Brewery museum, I think


Simplesmente
Achei piada ao contraste entre o menino João e a mensagem da parede

terça-feira, março 20, 2007

asfixia


Enquanto as pessoas se interessarem mais pela vida do vizinho (que não conhecem (!), mas ouviram falar), do que pelos seus próprios assuntos, enquanto desviarem os olhos para o lado para não olharem para si próprios, enquanto não se levarem a sério e continuarem a refugiar-se na desgraça do outro, como é que Portugal alguma vez poderá ser mais do que é, um canto triste de pessoas tristes e azedas? Mentes mesquinhas que vivem frustradas na sua dor, e enclausuram as mentes que querem melhor! Velhos do Restelo, personagem que 6 séculos depois ainda domina a ideologia de um país - "não vale a pena".
Sonhem alto! Nós temos as ideias, deixem-nos sonhar!
Dêem-nos asas!
Não nos impeçam de levantar voo por causa da vossa frustração de nunca terem sido mais.
Deixem-nos tentar!
Podemos falhar, mas deixem-nos tentar!

Abram-nos as portas do mundo!


foto: Parnell Street, Dublin, março 2007

segunda-feira, março 19, 2007

sábado, março 17, 2007



Stephane: Will you marry me when you are seventy?You'll then have nothing to lose.

quote from the film "La Science des rêves"


Nada será perfeito.
Mas nada nos impede de tentar
aproveitar esta réstia de luz antes do silêncio.

sábado, março 03, 2007

variações




pelo sonho é que vamos
comovidos e mudos
olhos rasos de água
coraÇão entregue
extasiados pela demanda
encorajados pela vontade
vamos

chegamos?
não chegamos?
que interessa a chegada?
chegar é morrer
alcançar é perder
interessa beber um pouco da loucura
desse a quem a sua verdade matou
interessa seguir
interessa partir

a vida sem sonho é apenas a não-morte
é ser apenas o cadáver adiado que procria
a besta sadia
o número
a estatística
a existência
o pulmão que respira
o coração que bate

por que bate?
para que bate?

pobre de quem baste

o ser que sangra é o ser que singra
sangrar é ser
sentir é viver

doer é ver

a dor que nos humedece os olhos
e que, sendo vencida,
limpa a visão,
clareia a estrada

a dor ilumina a busca
e, caminhando, o sonho
percorre-nos as veias
incendeia-nos o ser

caminhar é viver

a demanda é final em si mesma

foto: Esposende, Fevereiro 2007

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

St James' Park, Dublin
Dublin is not only about beer and pubs! =)

sábado, fevereiro 10, 2007




Porque este filme "Rent" é um musical daqueles da Broadway, que nos põe a chorar convulsivamente, a cantarolar as músicas repetidamente durante dias a fio, que nos emociona ao expoente.
Deviam dar um nome a este efeito tipo "efeito musical" ou coisa assim. Parece-me um caso clínico.

But what the hell! Loved it! =)

sábado, fevereiro 03, 2007

tried to hold back to my past
but it's too late

it's gone

domingo, janeiro 21, 2007

a luz de lisboa ao entardecer



foto: tirada pela Inês em Lisboa, Belém, Dez 2006

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Hoje vim para casa depois da explicação de Química, da qual gosto muito porque não fazemos mais que dois exercícios e conversar sobre a vidinha,
mas quando aprendemos é para aprender, embora eu hoje estivesse um bocado desligada daquilo na primeira parte,quando o
professor estava a explicar qualquer coisa como calcular o pH das misturas de ácidos e bases ou ácidos e ácidos e bases e bases
qualquer coisa por aí, seja o que for a realidade não diferirá muito destas hipóteses
já que pelo menos se sabe que estão dentro dos temas "mistura" e "ácido" e "base" e "pH", e tendo em conta que estes já são quatro
conceitos que eu ligo àquele discurso, já está suficientemente especificado o tema na minha perspectiva.
O mal é que eu estou ao lado do professor, e embora me seja fácil dizer que sim e fingir que percebo quando ele olha para mim, já é mais
difícil responder acertadamente ao que ele me pergunta, assim como perceber o timing das perguntas. Por vezes, fico a olhar para ele (melhor, eu olho para
ALÉM dele, olho para dentro, como se costuma dizer, expressão que eu acho por sinal muito engraçada, "ver para dentro", parece-me coisa impossível, tanta
filosofia dentro de uma expressão popular) sem saber que tenho de responder a algo. Apercebo-me milésimos de segundos depois (o tempo de reacção nunca é
muito, depende um bocado do estado de divagação, e de que a quantos km estou daquele lugar, ou por outras palavras da profundidade a que vejo para dentro,
mas nunca excede umas poucas de segundos)
Como eu dizia, vim da explicação, seria por volta das 17.45, e cheguei à paragem da Sra-A-Branca às 18.01 (gosto muito de preciosismos quando tenho tempo
para pensar neles).Verifiquei o horário do autocarro, às 18.08, muito bem, afinal nem cheguei demasiado cedo nem em cima da hora, diria mesmo que neste caso
o timing foi perfeito,ao contrário daquele que me permite adivinhar quando vou ter de responder a algo, esse deve ter a pilha gasta, pergunto-me onde se irão
arranjar estes timings que permitem adivinhar quando vou ter de responder a algo). Despedi-me de quem comigo seguia, não tinha mencionado esta presença, mas
foi propositado, não pense o leitor que a minha memória vai assim tão mal, vou a caminho acelerado da maioridade, mas parece-me que ainda não atingi a
senilidade, que é a fase seguinte). Ora muito bem me enganou o senhor doutor autocarro, esse malandro pôs-me à espera de sua senhoria durante uma boa meia
horinha (quanto a este espaço de tempo não há preciosismos, não olho para o relógio quando sei que se o fizer só vou prolongar a espera, é a minha maneira
de me defender do passar do tempo, até agora tem resultado, mas aceito mais sugestões, nunca se deve fiar só numa hipótese, vejamos o caso do timing que me
permite adivinhar quando vou ter de responder a algo. Nunca fiando, nunca fiando...) Ora lá estive eu, rapariga de muitos e variados afazeres, obrigada a
permanecer num mesmo lugar durante este exagero de tempo, durante o qual me ia perguntando "E se eu ligasse para os TUB para dar conta deste atraso?"Já
imagino a conversa:
- Olhe, desculpe (porque é que pedimos desculpa de qualquer maneira?), estou á espera do autocarro para sítio Y, na paragem X, está agendada a sua chegada
para as 18.08 e no entanto são 18.20 e estou eu aqui a contar as luzinhas dos carros que passam, uma rapariga de muitos e variados afazeres!
- Oh minha amiga (que confiança esta, só porque lhe liguei e pedi estupidamente desculpa), nós não temos culpa, os autocarros andam no meio do trânsito como
todos os carros que não são auto, estando por isso sujeitos aos mesmos atrasos que estes, ainda por cima é hora de ponta.
- Pois mas com isso eu também não tenho nada a ver, se os autocarros têm horários certamente que é para os cumprir, é um compromisso a que se sujeitam, ou
estes horários são uma aproximação, assim só para as pessoas se orientarem mais ou menos (ai o nosso país do mais ou menos), se ali diz 18horas então volto
daqui a hora e meia, vou lanchar e tal, ainda passo pelo minimercado e vejo como vai a senhora Marcelina, coitada, com aquela idade e aquela constipação,
certamente esta soma não dá resultado positivo)?Eu não posso andar assim, tenho coisas inadiáveis marcadas sempre para tarde, e tenho neste momento de estar
em casa daqui a dez minutos.
- Olhe lá, se está com tanta pressa não se arme em estúpida e apanhe mas é um táxi!
Conversa interessante esta, mais interessante o desfecho, bonita a conclusão da funcionária da Câmara, de que os autocarros são só para aqueles que têm
tempo para gastar, resumindo idosos e vagabundos, ou qualquer coisa do género.
Aqui ficava bem era estar a gravar a conversa, e posteriormente enviá-la para canais sensacionalistas, entre os quais a nossa querida TVI, o Robin dos
Bosques dos canais de TV, que faria manchete com esta bombástica notícia, de que os serviços públicos estão completamente desligados do público.
Melhor seria dar estas nossas intenções a conhecer à simpática senhora do outro lado da linha, só para ouvir o seu silêncio embatucado enquanto esboçamos
aquele nosso sorrisinho de vingança, que, quero lá saber o que dizem, sabe tão bem.
Não sei sobre o que ia escrever, muito provavelmente sobre nada, tantas coisas que cabem no nada, deve ser dos temas de conversa o mais abrangente, porque
afinal o nada é tão relativo, e há tantos nadas que guardo para mim, de vez em quando também faz bem soltar um ou outro, para esvaziar um pouco a alma.