Sentou-se ao meu lado naquela viagem.
"Sabe porque é que venho ao Porto?"
Obviamente que eu não sabia. E a senhora velhinha com ar simpático continuou.
Era retornada de Angola. Contou-me a infância, o marido, a vinda para Portugal.
Os netos cresceram, os pais desses netos cresceram também, o marido morrera, e ela ficara sozinha, a contar os dias que passam.
Um dia, recebeu uma chamada.
Do outro lado, uma outra senhora velhinha, a contar os dias que passam. Mas esta, enquanto o fazia, folheava as Páginas Amarelas. E no amarelo das páginas, um dia, viu um nome familiar. A memória para as coisas de agora era mais difícil, mas aquele nome era de um passado mais distante, que estava agora bem vivo.
Atendeu o telefone, e abriu-se uma janela.
Falaram das vidas, tão distantes e surpreendentemente tão iguais, das famílias, de Angola.
E combinaram encontrar-se, contava-me a velhinha, agora com olhos de adolescente.
Para que o contar dos dias que passam fosse mais ligeiro.
E por descobrir que estas coisas são possíveis o meu dia tornou-se muito melhor.
2 comentários:
oh.. e tornaste o meu dia melhor também... que bonito! *
ola! que fofinha a senhora :))
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