domingo, agosto 27, 2006

o tempo vai




Porque adorei a ideia da foto e a mensagem.

O que está escrito na parede é o seguinte:

"Nada de nosso temos senão o tempo, de que gozam justamente aqueles que não têm paradeiro"

cegueira total


E neste mundo cinzento, as pessoas não têm direcção, as pessoas correm, as pessoas não se tocam, as pessoas fogem dos outros, as pessoas fogem de si, as pessoas têm medo: medo dos outros, medo de si, medo de parar, medo de estar consigo, medo de estar só. Vivem nas suas conchas, repetindo a mesma rotina todos os dias, fechando toda a casa e janelas à noite, protegendo-se diariamente e incessantemente na sua bola de sabão, para que ninguém as magoe, ninguém as toque sequer, ninguém lhes tire o pouco que é seu, ninguém lhes altere a vida e o seu ritmo.
As pessoas estão sós, desesperadamente sós. Protegendo-se do mundo exterior (aquele mundo feio com cujas imagens são bombardeadas onde quer que estejam), e do seu próprio mundo, do seu próprio ser, através do trabalho e da rotina, acabam cada vez mais sós, mais afastadas do mundo. Dos outros.
De noite, há os que procuram exorcizar os seus medos através da bebida, de relações fugazes, da droga, de tudo o que os faça esquecer de si. Porque no fim o que nos governa é (quase) sempre o medo. É por um medo excessivo que nos levamos ao limite, é por medo que nos tentamos agarrar aos nossos amigos, por medo de estar sós, de estar vulneráveis, de falhar a vida, de não sermos melhores, de não agradar aos outros, de não sermos suficientes. Somos permanentemente vigiados. Sentimo-nos constantemente vigiados (e por isso só de noite a ausência de luz nos dá a ilusão de estarmos minimamente livres). Temos de viver por nós, e pelos outros; respeitar as nossas vontades e a dos outros. Acima de tudo, temos medo de nos verem falhar, de desiludir, de não seguir o padrão normal. Que nos vejam cair.
De abrir os olhos. E ver.



(Não estou a julgar ninguém. These are simple thoughts. Que no fim de contas não devem ser tomados demasiado a sério.)


foto- www.olhares.com, autor: vaZectomia