sábado, dezembro 30, 2006


Acorda. Aspira o ar gélido da manhã.
Abre os olhos para encontrar uma névoa azulada que lhe preenche os sentidos.
Que horas são? É cedo. De que interessa saber as horas quando a esperança se esvai a cada segundo que passa? Apenas têm interesse para aqueles que têm compromissos, que fazem parte da sociedade activa. Quem vive À margem passa bem sem elas.
O banco negro de jardim onde adormecera na noite anterior parece também ele repeli-lo dali.
É tempo de partir (sem pressas, a via flui indiferente aos nossos estados de espírito).
Somos apenas uma luz fugaz numa imensidão temporal. E quanto mais agitada a nossa existência maior a perda, maior a dor, maior a queda.
(Lembra-se do que descobriu sobre as abelhas, no dia anterior, na biblioteca pública da cidade, ao folhear uma gigante enciclopédia ilustrada: quando uma destas se sente em perigo, espeta o ferrão no animal mais próximo. Depois tenta fugir, mas por causa das pequenas farpas que o ferrão possui, a parte posterior do abdómen, onde este se localiza, fica presa na pele do animal e a abelha perde uma parte do intestino, morrendo logo em seguida) Espantosas as lições da mãe Natureza.

Arrefeceu. Repara que permanece imóvel, de pé em frente ao banco negro.
É tempo de partir, já foi dito.
Aconchega o casacão cinzento contra si, e segue para o rio.
Foge de si?

quinta-feira, dezembro 14, 2006



"dá-se tudo e nada fica."

(porque hoje descobri que nem sempre as pessoas em quem mais confiamos
confiam em nós)