terça-feira, outubro 31, 2006



So I looked for those flowers you gave me.

Those flowers, well they're dead.. in my hands



(Nothing is no longer in its place)

domingo, outubro 01, 2006

Depois de conhecido o resultado dos exames, e ainda abalada pelo mesmo, saiu do consultório. Não conseguia pensar em nada, e ao mesmo tempo pensava em tudo. Tudo lhe parecia vazio, as ruas apinhadas, em plena hora de ponta, pareciam-lhe subitamente desertas (talvez reflectissem o deserto de si). Deambulando pela cidade, deu por si num banco de jardim, molhada até aos ossos, dobrada sobre si mesma. Já nem sentia as lágrimas, já nem sentia frio, nem medo, não se sentia. Ficou por horas na mesma posição, inexpressiva, fitando as pedras da calçada.
Demorou um tempo até conseguir distinguir o som do telemóvel, que a chamava de volta ao mundo real. Era ele. Alguma vez teria de o confrontar com a verdade. Pois bem, seria agora. Limpando as lágrimas à camisola azul-escura, atendeu.

Andaram em silêncio muito tempo, abraçados. Em silêncio, como se uma simples palavra pudesse quebrar aquele momento, aquele laço invisível que os unia. Ele ficara estarrecido com a notícia. Afinal, ela sempre tão cheia de vida, tão jovem, tão...viva! Como se poderia estar possivelmente preparado para ser confrontado com o facto de que não são só as pessoas mais velhas que ficam doentes? E uma doença terminal?
Com espanto, reparou que o rosto dela se abria, num sorriso triste.
- Porque sorris?
- É mais fácil... E custa-me menos..por ti
Perante a expressão de espanto dele, dos seus grandes olhos negros que a inquiriam,
parou. Tocou-lhe no rosto como se cega fosse, e quisesse levar consigo, para sempre recordar, todos os traços da sua cara.
- É-me mais fácil poupar-te da minha dor; magoa-me menos sofrer a minha própria dor sozinha, do que forçar-te a participar nela. Se te embrenhares em mim, custar-te-á mais quando eu já não estiver cá... E não te quero usar como refúgio de mim...
Chorar em público é um acto tão simples, tão supostamente natural,
e no entanto, parece que incomoda, que assusta até.
Implica, é verdade, um destruir todas as barreiras que construimos para nos isolar,
darmo-nos e mostrarmo-nos como somos, sem jogos, despindo todas as máscaras.
Um abandonar a cara vazia que nos habituamos a mostrar em sociedade, assumirmo-ns como somos..o que custa e requer coragem (tb requer coragem sujeitarmo-nos a tanta exposição!)

Lembro-me de, quando estava no Porto, ter passado um mau bocado porque tinha um olho inflamado, que não parava de chorar, que ardia..enfim, uma maravilha!..
Ora andava eu então nas minhas andanças diárias a bordo do andante, e claro k tinha de passar algum tempo (1 hora que demorava a viagem,se nao me engano), a chorar sem parar em frente de alguém. A maioria olhava noutra direcção (que incómodo, tinha eu de estar a chorar ali à frente deles, a estragar-.lhes a vidinha toda), o que se tornava difícil, porque ou se esticavam todos para olhar por cima de mim(não, tb não sou assim tão alta), ou então tentavam olhar para o infinito, bastante mais interessante e divertido.
Apenas uma senhora, aí dos seus 40, olhou para mim (após um longo período a fingir que eu não estava lá), e sorriu.
Não percebi a reacção dela, mas sorri-lhe de volta.
E senti-me melhor.