sexta-feira, junho 22, 2007

"Passagem das horas"

Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?

Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão,
Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra.
Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos.
Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...
Tão decadente, tão decadente, tão decadente...
Só estou bem quando ouço música, e nem então.
Jardins do século dezoito antes de 89,
Onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?

(...)

Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Minha quinta na província,
Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de partir entre mim e ti.
Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir,
E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...

(...)

Vem, ó noite, e apaga-me, vem e afoga-me em ti.
Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito,
Mágoa externa na Terra, choro silencioso do Mundo.
Mãe suave e antiga das emoções sem gesto,
Irmã mais velha, virgem e triste, das idéias sem nexo,
Noiva esperando sempre os nossos propósitos incompletos,
A direção constantemente abandonada do nosso destino,
A nossa incerteza pagã sem alegria,
A nossa fraqueza cristã sem fé,
O nosso budismo inerte, sem amor pelas coisas nem êxtases,
A nossa febre, a nossa palidez, a nossa impaciência de fracos,
A nossa vida, ó mãe, a nossa perdida vida...

Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido,
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Uma razão para descansar, uma necessidade de me distrair,
Uma cousa vinda diretamente da natureza para mim.

Álvaro de Campos

quinta-feira, junho 21, 2007

hit the road



Dois já foram!
O mais estranho é que o exame de Matemática me correu bem.
Ele há com cada coisa...
O próximo é Biologia, mas eu já nem o vejo, só penso para a frente,
estou a começar a sentir um gostinho a férias, sol, viagens, festivais de música..=)
Tudo o que há de bom para se fazer aos 18 anos, quando se vê toda a nossa vida
a passar à nossa frente, num fast foward a ritmo alucinante e sem aviso prévio.

What the hell! Let's live life!

domingo, junho 17, 2007

o outrora, agora


Recordo o tempo em que já fui

Recolho fragmentos desse outro ser

(photo taken by me)

terça-feira, junho 12, 2007

old school days

Vou ter saudades destes dias. Já tenho.
Acordar todos os dias às 7h (disto já não vou ter muitas saudades), e encontrar as mesmas caras, a Segunda enchia-se com as histórias do fim-de-semana, havia sempre muito que contar, sempre novidades, sempre uma piada nova, sempre ideias de actividades para a sexta, para as férias, para o fim-de-semana seguinte.
Havia tanto para descobrir sobre o mundo, sobre nós, sobre os outros. Havia tanto que aprender, tanto dentro como fora de aulas, há sempre histórias (por mais macabras que sejam) e sorrisos para partilhar.
Mesmo quando já não tínhamos assunto, mesmo partilhar o silêncio era bom. E relembrar os melhores momentos. Acima de tudo, rir muito. Viver a vida ao máximo porque o mundo é nosso. Se estivermos todos juntos, claro. :)


quarta-feira, junho 06, 2007

ter medo de si


"Quando estudava no liceu, só discutia uma vez as fórmulas matemáticas. Depois, era assunto arrumado. Servia-me delas, não hesitava.Se as demonstrávamos outra vez, era só para sabermos todos que não havia razão para hesitar.
Mas você gosta de hesitar. É cómodo. Não tem responsabilidades. A crise é necessária. De acordo. Deixá-la fermentar. Absolutamente. Mas você quer é a crise pela crise. Sabe que se ela se resolver não há razão para ficar quedo. E isso é que você não quer, poeta amigo. Ter de concluir. Ter, por consequência, de actuar. Se lhe roubam a crise, perde a sua razão de ser homem. Porque ser homem, para você, é dar um passo á frente, outro atrás. Ter um pé no céu e outro no inferno."
Vergílio Ferreira, "Contos"