Parece impossível. Anda uma pessoa sempre a desejar umas feriazinhas, um tempinho para se fazer o que realmente se gosta, e quando finalmente esse tão desejado intervalo é alcançado, não se sabe o que fazer ao tempo.
Parece que desaprendemos a dormir, a não pensar em nada, a não calendarizar todas as nossas actividades, a ter um tempo para nós, só para ficar. De repente, ficamos desamparados e livres do stress.
É terrível.
Felizmente que,como bons seres humanos que somos todos, (suponho eu, na minha mais profunda das ignorâncias), encontramos sempre algo de que ter medo, algo pelo qual ficamos ansiosos, algo que fazer, algo por que lutar.
O pior é quando não temos nada por que lutar. O meu caso, por exemplo.
A mais profunda crise de identidade.Que sou eu? Terrível, dizia eu.
O espírito criativo é algo que cansa. Seguir ordens é tão mais fácil! Seguir ordens de um regente tirano, sofrer por uma coisa injusta, submeter-nos s um destino maior do que nós, ser escorraçados, torturados e injustiçados por uma causa que não nos pertence. Mas, apesar de tudo, uma causa. Pode não ser nossa, pode não nos pertencer, mas é o caminho que está traçado para nós, é o sofrimento que nos vem endereçado com letras gigantes vermelhas no sobrescrito, "what we are meant to be". O nosso destino, diria eu, se acreditasse no destino. Mas digo na mesma, até porque não sei quanto tempo irá durar esta minha descrença em tal sujeito.
É terrível. O livre arbítrio é chato. Cansa. E mói.
Eu sempre adorei o conceito da insatisfação humana, a fome de Mundo, a fome de além-Mundo, o poder do sonho.
Em abstracto, amo-o. Em concreto, odeio-o.
Preciso de um objectivo. Quero acordar um dia e dizer: eu quero fazer isto! É isto, sem tirar nem pôr, tudo o que eu sempre quis, embora não soubesse que o queria! Quero acordar deste sonambulismo acordado, deste semi-ser, deste esperar por mim, esperar por algo que não vem, quero poder sofrer, rasgar-me, levar-me ao limite por algo que sei estar certo, uma causa justa e inabalável. Quero ter certeza do que faço. Quero poder chorar lágrimas de suor e sangue pelo meu esforço desumano na busca de algo que me pertence, que quero mais do que tudo, algo que mereço, ou talvez não, mas quero e sei querer. Quero perder o medo de mim para poder agir, deixar o diletantismo adormecido nos meus momentos de poesia, reservado para as noites mais longas, para os momentos de fraqueza, para conseguir enfrentar o mundo de frente e com plena consciência de mim e da minha missão. Quero que essa luz nunca se apague, quero segurá-la como facho ardente nas noites de ébano, acima de mim, acima da minha vontade, e acima de tudo não quero deixar de querer.
Acordem-me quando eu começar.
(texto escrito em Junho 2007)