Às vezes custa. Quando nos viramos do avesso para melhorar a vida da outra pessoa, para a ajudar, e ela não aceita, não percebe, ou simplementes rejeita a possibilidade de fazer o que é melhor para ela. E se vira contra nós.
E isto mói.
E depois lidamos com alguém que tem 3 meses de vida, e que mantém um optimismo e uma força danados.
E não entendemos esta porra de vida.
E depois pedimos férias e dizem-nos que não pode ser.
E nós aguentamos.
Mas há dias... em que damos por nós a perguntar se esta é a melhor maneira de viver a nossa vida, a nossa profissão. Porque ser médico é viver várias vidas ao mesmo tempo, é sofrer várias vezes e repetidamente.

E neste momento
"O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço."

9-10-1934

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa