sábado, abril 14, 2007

beauty & masks (II)

Foi já há um século atrás que Fernando Pessoa escreveu e descreveu a nossa sociedade actual.
E cada vez mais actuais e prementes as suas palavras se tornam.
A publicidade é agora mais forte e mais agressiva do que nunca.
Somos constantemente bombardeados por modelos impossíveis de beleza, de modos de vida luxuosos, confrontados com um mundo dourado que todos sabemos não ser verdadeiro e que esconde um imenso vazio e uma intensa "podridão" de alma.
Não há espaço em televisão para pessoas comuns, para pessoas feias, a TV mostra cada vez menos a nossa realidade, havendo apenas um espaço exclusivo para ela nos telejornais.
As novelas são mundos à parte, repetindo a mesma fórmula exaustivamente (a da gata borralheira, a da opressão dos ricos sobre os pobres, os romances e traições venezuelanos, filhos que afinal são primos, inimigos que afinal são irmãos). Quer dizer, estes eram os temas da literatura por exemplo de Camilo Castelo Branco, como em "Amor de Perdição". E eu não acredito que a mentalidade da sociedade portuguesa não tenha evoluido desde aí! Não estará já no tempo de mudar um bocado a fórmula, de adaptar um bocado mais as novelas ao nosso tempo, de deixar de alimentar as pessoas com os mesmos dramas poeirentos e entaramelentos que anestesiam os cérebros?
Os reality shows (A bela e o mestre, big brother) mostram-nos o lado mais triste da nossa sociedade. Peço desculpa mas conheço muito boa gente que os condena da mesma forma que eu, nem todos os portugueses são assim tão primitivos como os que nos fazem engolir, e já nem todos nós aguentamos ver aquela degradação moral.

E, saindo um pouco do exemplo da TV, e voltando ao tema inicial, até mesmo nos nossos gestos mais simples se reflecte a forma como fomos e somos dominados pela opinião pública, e pelo olhar da sociedade. Quem consegue sair de casa sem pôr perfume, ou quem consegue sair de casa sem se pintar um bocado, sem arranjar o cabelo, tentar esconder um pouco quem realmente somos? São pequenas máscaras sem as quais conseguimos viver, que estão já tão enraizadas em nós que já nem nos apercebemos que as colocamos inconscientemente.

E assim andamos perdidos nesta ilusão, a vaguear entre o consciente e inconsciente, alimentados por este sonho dourado que sabemos inatingível e portanto apetecível.

(lembrei-me disto quando vi, numa revista -parece-me que era a Sábado-, a Allegra Versace, herdeira do trono Versace, que parece que sofre de anorexia. Não tem grande ligação, eu sei. :) para ver uma imagem dela, cliquem aqui)

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