Partículas cinzentas invadem o azul celeste. Pequenas entidades venenosas, sem vontade, sem propósito afectam-nos a todos. A luz vermelha, sua mãe, não nasce, contudo, sozinha. A luz vermelha nasce pelos dedos, nasce pelas mãos e nasce sobretudo pelas mentes inferiores e gananciosas do nosso presente.
Verdes gritantes acastanham-se e acinzentam-se. A alvura nebulosa teima em não chegar. Apenas o cinzento, só o cinzento e nada mais que o cinzento: uma abóbada inatingível e irrespirável.
Aprazíveis partículas líquidas batalham contra as odiáveis outras. O conflito acaba prontamente: as cinzentas ensopadas nas líquidas depressa formam uma lama melíflua que se precipita no solo. A luz vermelha crepita, estrídula e, eventualmente, extingue-se.
Uma batalha foi ganha… a verdadeira guerra aproxima-se.
(texto de Ricardo Reis;foto: Alfândega da Fé, 2007)
Sem comentários:
Enviar um comentário