"O que me interessa saber é se aquela pessoa ajuda o seu próximo caso o veja aflito ou se passa ao lado e finge nem ver a sua aflição.Isso sim, é deplorável. Mas é muito mais fácil arrumar as virtudes em caixinhas que se podem identificar à primeira vista do que procurar a virtude que se esconde no íntimo de cada um. Para isso é preciso que saiamos da nossa bolha e que vamos ao encontro do outro.
Este movimento ao encontro do outro afigura-se como a fobia do seculo XXI. Tudo está feito para que possamos viver sem precisar e ninguém. Deixámo-nos isolar e deixámo-nos, sobretudo, convencer de que estarmos isolados é uma fortaleza. Não é. É uma fraqueza enorme da qual se aproveitam os que pretendem uma sociedade dirigida por interesses obscuros.
Por isso, por estarmos tão afastados uns dos outros, não hesitamos em julgar-nos por aquilo que conseguimos avistar , ali, de longe, míopes por opção. Miopia é igual a estigmatismo, não para os oftalmologistas, mas para a minha "liberdade poética". A miopia cria estigma: as tais caixinhas onde arrumamos os outros, depois e uma análise superficial às suas vidas.
Não nos admiremos pois que, ao transformarmos os outros em figuras-tipo, acabmeos nós por sermos transformados igualmente em figuras redundantes, pouco complexas, personagens de novelas de cordel, figuras sem corpo nem densidade e, ainda por cima, míopes de coração."
Crónica de Ana Bacalhau in Noticias Magazine, Publicado originalmente na edição de 24 Maio de 2015
(... may(be) not..) "Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?" Álvaro de Campos
quarta-feira, maio 27, 2015
sexta-feira, maio 08, 2015
Signos e cenas
A previsão para o meu signo:
"bla bla bla. Este é um período em que lhe faz bem cuidar do seu corpo, poderá mesmo fazer uma dieta."
E eu penso:
"E deitar fora aquela embalagem de tulicreme que comprei agora?
Ná, que desperdício!"
Quando eu aparecer por aí a rebolar já sabem...
"bla bla bla. Este é um período em que lhe faz bem cuidar do seu corpo, poderá mesmo fazer uma dieta."
E eu penso:
"E deitar fora aquela embalagem de tulicreme que comprei agora?
Ná, que desperdício!"
Quando eu aparecer por aí a rebolar já sabem...
domingo, maio 03, 2015
Estou a adorar este livro :P
"Já se viu com que facilidade Frei Martinho absolve os pecados de tentação do pintor Raimundo da Anunciação, que o escolheu com critério e argúcia para seu confessor. Conhecendo-lhe o passado brejeiro de Lisboa, Raimundo não precisa de saber do seu presente que mantém o mesmo traço de volúpia, o ceder às mesmas tentações de uma compleição bem nutrida e exigente que o leva a fazer letra morta do disposto nas Definições impostas no Capitulo Geral celebrado em 1784, segundo as quais é vedado "meter mulheres dentro do Mosteiro ou cerca dele com mau intento". Surpreendido um par de vezes no barraco das alfaias da horta dos frades por irmãos da Ordem, demasiado zelosos, em flagrante delito de violação das Definições, Martinho sempre negou o "mau intento", encontrando santas razões para a episódica presença nas excessivas cercanias do seu hábito de burel de alguma loureira feirante, criada do Psço, lavradeira de Sto Isidoro, lavadeira de trouxa aviada, todas oficialmente em busca de sossego para a alma, mas realmente consolando necessidades mais terrenas que só o frade e Deus, a quem dá contas, conhecem."
in Razões de Coração, Álvaro Guerra
in Razões de Coração, Álvaro Guerra
Subscrever:
Mensagens (Atom)