"O que me interessa saber é se aquela pessoa ajuda o seu próximo caso o veja aflito ou se passa ao lado e finge nem ver a sua aflição.Isso sim, é deplorável. Mas é muito mais fácil arrumar as virtudes em caixinhas que se podem identificar à primeira vista do que procurar a virtude que se esconde no íntimo de cada um. Para isso é preciso que saiamos da nossa bolha e que vamos ao encontro do outro.
Este movimento ao encontro do outro afigura-se como a fobia do seculo XXI. Tudo está feito para que possamos viver sem precisar e ninguém. Deixámo-nos isolar e deixámo-nos, sobretudo, convencer de que estarmos isolados é uma fortaleza. Não é. É uma fraqueza enorme da qual se aproveitam os que pretendem uma sociedade dirigida por interesses obscuros.
Por isso, por estarmos tão afastados uns dos outros, não hesitamos em julgar-nos por aquilo que conseguimos avistar , ali, de longe, míopes por opção. Miopia é igual a estigmatismo, não para os oftalmologistas, mas para a minha "liberdade poética". A miopia cria estigma: as tais caixinhas onde arrumamos os outros, depois e uma análise superficial às suas vidas.
Não nos admiremos pois que, ao transformarmos os outros em figuras-tipo, acabmeos nós por sermos transformados igualmente em figuras redundantes, pouco complexas, personagens de novelas de cordel, figuras sem corpo nem densidade e, ainda por cima, míopes de coração."
Crónica de Ana Bacalhau in Noticias Magazine, Publicado originalmente na edição de 24 Maio de 2015
1 comentário:
Muito Bom!
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