sexta-feira, maio 25, 2007

Náusea

Tudo me parece tão vago de sentido. Tão pobre de vida.
Sinto (como Fernando Pessoa) uma enorme náusea de tudo. Do ser, do existir, do estar.
O branco.
O vácuo interminável que nos suga para dentro de coisa nenhuma.
Sinto vontade de vomitar o Mundo de mim para fora.
E depois reconstruir tudo, a partir do Grande Nada, o estado primordial das coisas,
(mesmo pré-primordial), o branco que fere, aquele sítio anterior a todos os sítios, mesmo antes de haver sítios, antes de haver chão e céu e terra e água e cor e vento e gravidade e todas as leis da física, e matemáticas, e morfossintáticas, e toda e qualquer noção de forma, de pensar, de lógica e raciocínio, antes de haver filosofia, e psicologia, e psiquiatria, e todas as grandes descobertas do Homem que destruíram a Humanidade. Um estado de entropia máxima (mas como, entropia, se não há física?). Um estado que nem é estado porque não há estar, não há tempo, e finalmente e principalmente, não há ninguém.
.....
Mas porque haveria eu de reconstruir o Mundo, afinal? Para testar as capacidades de auto-destruição do que crio? Mas, já sei, são elevadíssimas. E qual a utilidade desta experiência afinal? Que me interessa a mim criar algo que será infeliz, torturado e escravo de si até que se acabe?

Vou dar o projecto por terminado. Afinal ficamos assim.

(texto já antiguinho)

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